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17 fevereiro 2007

GRITAR ANTES, BRINCAR DEPOIS.

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O carnaval está aí. Momento para brincar, vestir fantasia e se divertir. Ou apenas pra relaxar.

Acontece que tá cada vez mais difícil entrar na fantasia sem, antes, gritar contra essa realidade.

Tudo bem, já sabemos que nem tudo por aqui é muito sério. Que o diga De Gaulle, há décadas quase execrado quando insinuou algo nesse sentido.

Tá. Mas, bem ou mal, a maioria de nós já se acostumou com a idéia de viver num pedaço do novo mundo à moda de um mundo bem antigo.

O problema é que essa sina não tem fim!!

Veja: uma das cidades mais belas do mundo é nossa. Mas, perdoe-nos S. Sebastião do Rio de Janeiro, dela fizeram o epicentro de uma epopéia urbana!

Ah, sim, construímos outra capital federal. Planejada, futurista, deslumbrante arquitetura. Porém, já cercada por cinturões de favelas veladamente cultivados pelo neo-populismo e incentivados por quem neles se elege com promessas de lotes em terras públicas e muitas doações de falsa ajuda, aquela forma de auxílio que perpetua miséria na periferia e raposas no poder.

Escrevemos uma Constituição pretensamente moderna, um estatuto da criança com altas inspirações no primeiro mundo e adotamos concepções de direitos humanos também importadas de frentes tidas como avançadas. Mas não se quis copiar do mundo avançado as leis penais, o modelo policial e o sistema carcerário. Nem tampouco a rigidez do controle e fiscalização da gestão pública.

Não se medem esforços para ter (e vender) tecnologias de ponta. A TV com transmissão digital está aí. Carrões com GPS e DVD, também. Mas nada se faz pela ordem no trânsito nem pelas rodovias. Nem mesmo projetos. Só remendos sobre remendos de asfalto, com validade até a data do pagamento às empreiteiras.

Conseguimos escalar um brasileiro em viagem espacial da NASA. Mas aqui embaixo nossos aviões colidem entre si num prosaico tour doméstico.

Novamente, todos os esforços em nome do acesso à tecnologia de ponta. Há mais de cem milhões de celulares nas mãos da população. Mas grande parte dela segue a comer nas mãos do crime organizado (cuja existência a enferrujada legislação não reconhece) por culpa da omissão e descaso do poder público.

Os bandidos espalham o bang-bang, saqueiam dentro das cercas alheias, explodem as metrópoles e trucidam crianças nas ruas da cidade maravilhosa.


Diante de tudo isso, o que fazem os homens que têm o poder e o dever de agir?

Insistem alguns iluminados que nada se deve fazer por enquanto, senão aceitar os fatos, rever nossa história e discutir teses antropológicas. Quem sabe, ainda queiram filosofar sobre o sexo dos anjos. Ou então nos pedir: "sentem-se, que o leão é manso".

Bem, muito bem estamos nós...


A casa está pegando fogo! Os bombeiros chegam com atraso e ainda vêm com essa conversinha de que seu trabalho será apenas sentar pra analisar o projeto da construção!!

Só nos resta cair na folia (mas poderá haver ressaca). Então vamos ao Carvanal. O nome do meu bloco é
"FRANCELINO, QUE PAÍS É ESTE?"


(crônica de Ricardo Zani, publicada em Usina de Letras).
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