No final de junho de 2013, viajei com dois amigos para a incrível Serra do Rio do Rastro, na região mais fria do Brasil, em Santa Catarina. Um passeio inesquecível, digno de registro. A aventura foi nossa, o relato é de Wellington. Aí está:
Quatro mil e duzentos quilômetros de viagem, três motos, três amigos: Regimar, Ricardo e eu (Wellington).
Quatro mil e duzentos quilômetros de viagem, três motos, três amigos: Regimar, Ricardo e eu (Wellington).
É inverno, mas predomina um clima ameno. Não muito frio e pouco calor.
Do Planalto Central vamos rodar os pneus de nossas motos (uma Honda, uma BMW e
uma Harley) até às altitudes e curvas da Serra do Mar pelos lados de Santa
Catarina, adiante da Serra do Rio do Rastro. Mas, antes, riscamos a secura de
Goiás, as Gerais e os canaviais paulistas. Depois, Frutal-SP e Ibaiti-PR.
Em Ibaiti, que noite fria! Na manhã seguinte, as chuvas descem com fúria
sobre nossas capas e capacetes. As motos respondem com rosnar fumegante à
impertinência da água que obliquamente parece testar nossa obstinação. Bravas,
bravas companheiras! Por volta das três da tarde, ainda sob chuva, resolvemos
parar.
Noite dormida em Palmeira. No dia seguinte, com parte dos equipamentos
molhados, iniciamos nosso quarto dia sobre as motos. Do alto da Serra, nos
precipitamos nos vales encobertos pela neblina cinzenta e fria. As nuvens
vistas dos vales, quase encostando aos recortes das Serras, estimulam nossas
mãos a acelerar.
Seguindo para o sul, entrecortada pelas águas do Rio
Itajaí surge Blumenau, e no dia seguinte estamos em Urubici. Mas, antes que a noite chegue por
inteira, arriscamos subir o Morro da Igreja, ponto mais alto do estado de Santa
Catarina. Em meio às nuvens, nossa visão limita-se a não mais que 80 metros.
Muito, muito frio! Quando iniciamos a descida do Morro somos surpreendidos pela
força intempestiva da luz alaranjada do sol rompendo a opacidade das nuvens.
No amanhecer, quando partimos de Urubici, dos pontos mais altos da
estrada vamos compreendendo que a cidade encontra abrigo do frio e dos ventos
nas encostas das Serras. Durante todo o percurso, trocamos informações e
admiramos o esplendor e robustez das Serras riscadas pela negritude do asfalto
sobre o qual os pneus de nossas motos acalcam. O sol tíbio nos acompanha, ora
se escondendo detrás das nuvens escuras, ora nas matas de araucárias, ou
aparecendo repentinamente em algum vão da Serra. Na parte mais alta da Serra do
Rastro, as nuvens parecem estar a um salto de nossa vontade de apalpá-las.
Descemos cuidadosamente o asfalto molhado que se aperta entre os
paredões e precipícios da Serra e onde suas 250 curvas se escondem sob a
neblina molhada da manhã fria.
No final da tarde, trânsito pesado em Floripa! Buzinas, luzes
caminhantes, arrancadas e frenagens. Após dormirmos em Florianópolis, costeamos
o mar e beiramos a areia da praia de Itapema (Sta. Catarina).
Dormimos em Castro-PR e, na manhã seguinte, paramos em Castrolanda,
pertinho do centro, para fazer fotos junto ao memorial construído em reverência
aos holandeses que por ali fincaram a vontade de permanecer nas terras altas e
frias deste Brasil.
Bem adiante, pernoitamos em Jaú-SP. Nas terras planas de São Paulo, boas
estradas, pedágio e a imensidão dos canaviais. De Jaú, adentramos o triângulo
mineiro e logo nos apartamos. Como estava previsto, Ricardo permanece em
Uberaba, enquanto Regimar e eu vamos pernoitar em Uberlândia.
No dia seguinte, sob a secura de inverno no Centro-Oeste e sempre
ladeados pela monotonia das plantações de soja, sorgo e milho, aproximamo-nos
de Brasília. Quando avistamos a capital, o sol já desceu à linha do horizonte,
mas sua luz ainda permite avistar a imensa torre de TV e os prédios do Plano
Piloto.
Muitas imagens, saudosas recordações! Curvas fechadas, acelerações e
desacelerações, ventos ululantes nos nossos capacetes. Ah, nossas motos!
Grandes companheiras e cúmplices de emoções inesquecíveis! Ah, as noites! Elas
nos serviam a cerveja, a comida fumegante. O cardápio em discussão: vamos de
peixe? Que tal um vinho? A pizza, a carne na chapa exalando desejos. O arroz
branquinho, o chucrute. Ah, as dúvidas: vai chover amanhã? Fará frio ou não?
Pouco ou nada importava! Boas e longas conversas... E, por nove vezes, boa
noite! Por dez manhãs, o café, o leite, os quitutes do Sul (pão de trança,
biscoito santa fé, cuca...). Vontades e desejos renovados: nossa disposição!
Bagagem conferida? Intercomunicadores ligados? Tudo ok? Então vamos nessa! E
nossas motos, cada qual respondia a ordem de partida com o soar grave dos canos
de escapamento. Se pela manhã o sol podia surpreender, no meio do dia podia
chover e ao anoitecer podia fazer frio. Sotaques goianos, mineiros, paulistas,
paranaenses, catarinenses. Diversos matizes sem apartar uníssonos sorrisos.
Mulheres alegres, meninos curiosos, homens especulativos. Goianos e mineiros
perdidos e encontrados no regaço de catarinenses de olhares azuis e tez
branquinha. Amassando, acalcando, perfilando, revirando todos os 11 dias,
fomos-nos aproximando, aproximando... Bons companheiros! De Blumenau e Itajaí,
a efervescência dos jovens na rua. Nas hospedagens, água quente. Nos bares,
cerveja geladinha, geladinha! No interior do país, o regozijo pelas manifestações
e a esperança de que o Brasil vai (ou pode?) mudar.
Até a próxima!
(Escrito por Wellington Figueiredo)
BSB 30072013.
(clique nas imagens para ver em tamanho original)
Um comentário:
gostei muito, Wellington, como sempre você escreve com sentimento e atenção estética. Rita Heloísa
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