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Outro dia deparei-me com uma crônica do Arthur da Távola, chamada Ode ao Gato. Excelente. Penso que Arthur criava gatos e era grande conhecedor desses bichanos, do contrário não poderia escrever com tanta propriedade. Como gostei, pensei o seguinte: quantas outras odes foram escritas com semelhante qualidade?
Antes de prosseguir, convém lembrar que ode é uma composição poética originária da Grécia. Desde Homero, era cantada e acompanhada pela lira. Em grego, ode significa canto. Na literatura portuguesa, Camões e Pessoa foram alguns dos que aderiram a essa forma de escrita. Mais recentemente, Miguel Torga fez o mesmo. Contudo, a ode de que falo, assim como a do Arthur, nada mais é do que uma crônica ou algo do gênero, em que se exalta alguém ou alguma coisa. Tornou-se habitual chamar de ode esse tipo de texto. Então, pensando na deliciosa Ode ao Gato, passei a procurar por outras.
A pesquisa me confunde logo de saída. Aparece outra Ode ao Gato, esta atribuída a Pablo Neruda. Não é o texto do Arthur, mas fala dos bichanos. Rapidamente percebo que há dezenas de odes atribuídas a Neruda... Aí, eu me pergunto: poderia ele se inspirar no nosso Arthur?
Depois, vi Ode à Amizade, um poema legal! Ode à Árvore e Ode ao Ator Feio, no blog do Ricardo Calil. Em Ode ao Burguês, Mário de Andrade não homenageia, mas tritura o bom burguês. Também encontrei Ode à Bohemia, Ode ao Canalha, Ode à Felicidade, Ode à Paz, Ode ao Prozac, Ode ao Trabalho e vai por aí...
Quando a pesquisa é na internet, tem algo que irrita mais do que a conexão lenta e a mediocridade de certos textos. São as reproduções de bons textos sem citação do autor. Isso é intolerável. Há, ainda, textos indevidamente atribuídos a nomes consagrados... Quanta coisa está circulando com a falsa autoria de Érico Veríssimo, Fernando Pessoa e até Shakespeare...
Bem, apesar de tudo, é um passeio interessante. Vi algumas letras de música, como a Ode ao Gaúcho e a Ode aos Ratos, de Chico Buarque e Edu Lobo.
Vi coisas tão variadas quanto criativas, como um blog chamado Big Ode. E, obviamente, não falta quem se ocupe de inventar algum modo diferente de meter um F antes de ode.
Enfim, encontrei odes de todo gênero e para todos os gostos. Foi aí que me dei conta: se tem para todos os gostos, onde está a ode ao conhecido gosto brasileiro? Como podem abundar as odes sem que haja ao menos uma dedicada à preferência nacional? Se ode abunda, por que não? Certamente, muitos terão talento e disposição para escrevê-la. Quem quer começar?
(Autor: Ricardo Zani)
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