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07 março 2007

HUMOR: "CAUSO" DO ZÉ DA TRIPA

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Quero apresentar aos leitores e visitantes desta página um amigo de longa data, com quem trabalhei por muito tempo em minha cidade natal. Tenho por ele grande admiração e respeito, não só por se tratar de um dos radialistas mais competentes e íntegros que conheço, como também pelas suas excepcionais qualidades humanas. Estou falando de Cilmar Machado, que há décadas é uma das vozes mais conhecidas e ouvidas na região de Lins. Na verdade, hoje Cilmar é ouvido e lido, pois mantém uma coluna semanal no jornal Debate. Foi para aquela coluna que ele escreveu o caso do Zé da Tripa, que agora mostro aos amigos deste Blog. Vale a pena conferir:

Aproveitando as férias de janeiro, me mandei para João Pessoa, na Paraíba. Lá, aluguei um carro e fui rodar o interior, na chamada Zona do Cariri. Ao passar por Campina Grande, num pequeno município próximo a ela, deparei numa das residências com uma placa em que se escreveu: ¨Zé da Tripa, conçultor di inconomia. Consurta: 10 rear; acompanhá a papelada, 15 rear. Depois do benéfico, 10% por méis do que ocê ganhá.

Como tinha tempo pois estava a passeio, resolvi ¨consurtᨠtambém. Enfrentei uma fila de 3 pessoas e hora e meia de demora. Chegada a minha vez, logo indaguei o porquê de seu nome: Zé da Tripa. Disse-me que, amigo do Prefeito de Campina e seu cabo eleitoral, arrumou há uns 5 anos o emprego de enchedor de lingüiça, na fábrica do político que o registrou e ainda paga a parte do INSS com que o empregado deveria arcar. Só com essa informação já tive uma idéia da vivacidade do meu interlocutor, que continuou após receber o dinheiro da consulta:

- Nóis, pobre e anarfabeto como eu, precisamo se virá pra viver. Pra quem não consegue Cartera Assinada, eu aconseio a fazê um fio por ano. Assim, o peão recebe por quatro méis, o vale-bucho (salário- maternidade), todo ano aumenta a famía e o seu lucro.

- Mas, com isso você aumenta também os problemas, retruquei. Mais bocas pra comer, maior o gasto!

Com um ar doutoral, que me lembrou o Delfim Neto, o tripeiro arrematou:

- Daí é que entra o meu trabáio! Com bastante fio, sua muié vai e consegue a tal de Borça-Famía. É mais uma graninha que entra, ó xênte! Se eu cuidá da papelada, contando com o meu amigo Prefeito, a coisa sai rapidinho. Aí então, o cabra fica sussegado por mais um tempo e me paga 15 rear para eu cuidá dos papéis e 10% do que ganhá cum o benéfiço!

- E, quando os filhos crescem, o que você faz?

- Se for muié, vai casar, emprenhá e começá tudo de novo! Si fô hôme, vai pra uma cidade do interior de Sun Paulo, uma tal de Lins, onde o Frogorífico do Bertin e as Usina de cana, contrata eles. Se isso acontecê, a única obrigação deles é mi mandá 10% do que eles ganhá pra compensá os pulo que dei pra criá eles...

Admirado com a sapiência do Economista do Cariri, arrisquei ainda lhe perguntar:

- E se tudo der errado, o que você fará?

- Bom, seu moço, é difícer num dá certo prum cabo eleitoral bão aqui do sertão. Mas, se acontecê, eu apronto uma marvadeza na fábrica de lingüiça, sô mandado imbora e recebo o tar de FGTS e mais o seguro-disimprêgo. Por enquanto, tenho as féria, o l3º e o Pis. Bão, né?

Abismado com a esperteza do linguiceiro, na hora de eu ir embora, ele ainda disparou:

- O sinhô que é um cidadão estudado, me arresponda uma coisa: É dificer conversá com o Lula, em Brasília? Sabe por quê? É que eu gostaria de sabê como ele faiz pra muié dele gastá quase 50 mil reár por méis, num Cartão de nome esquisito (Corporativo) e mandá a conta pro povo pagá! Eita cara sabido e é daqui do Nordeste, sim sinhô! Um dia eu também chego lá!

Saí rindo da casa do linguiceiro e ainda o ouvi gritar em alto e bom som:

- Zé da Tripa, lá... lá!...

(escrito por Cilmar Machado)
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